A carreira de diplomata é um sonho para quem deseja morar fora do Brasil, receber um bom salário e ainda contribuir para fazer do nosso país um lugar melhor. Mas será que é muito difícil ser um diplomata? O que é preciso para se preparar? Neste texto você descobre todos os detalhes de como se tornar um diplomata brasileiro!

Como se tornar um diplomata no Brasil?

O Brasil pode não ter um grande poder econômico ou militar, mas, nas últimas décadas, nosso país foi uma referência no campo da diplomacia. Entre as características que eram admiradas estavam o apoio a órgãos multilaterais, a defesa da paz e do diálogo.

Essas qualidades fazem com que o nosso país seja respeitado ao redor do mundo. Por essas razões, o Brasil foi chamado para participar de comissões internacionais e até obteve vantagens em negociações.

Não há dúvidas que os profissionais da diplomacia brasileira estão entre os melhores e mais respeitados do mundo. Isso é uma grande vantagem, já que os diplomatas representam os interesses do nosso país no exterior.

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Para garantir que sempre teremos os melhores profissionais, os diplomatas passam por um concurso público. Mas não para por aí. Após aprovados, as pessoas passam por um treinamento por 15 meses antes de poderem começar a atuar. O passo a passo é assim:

1. Cumpra os requisitos para participar do concurso

Para se tornar um diplomata no Brasil é preciso preencher oito pré-requisitos. Eles são essenciais para conseguir tomar posse como Terceiro-Secretário, o cargo inicial da carreira. Esses critérios são:

Esse último critério pode ser um pouco confuso. Ter um diploma emitido por uma universidade brasileira não significa que você tenha que ter feito a sua graduação no Brasil. É permitido que os diplomatas se formem no exterior, porém, é necessário revalidar o seu diploma até a data de posse no cargo.

É importante notar que não é feita nenhuma exigência com relação ao seu curso superior. Você pode ter se formado em Engenharia, Medicina, Pedagogia, História, Direito ou qualquer outro curso. O que importa para o Itamaraty é que você tenha um diploma válido no Brasil.

2. Faça as provas do CACD

Se você cumpre todos os critérios para se tornar um diplomata, basta ser aprovado na prova. Mas essa não é uma tarefa tão fácil. O Concurso de Admissão à Carreira de Diplomata (CACD) é considerado um dos mais difíceis do país.

Essa prova é realizada anualmente desde 1996, quando o exame passou por uma reformulação. O CACD é o sucessor do vestibular para o Curso de Preparação à Carreira de Diplomata, encerrado em 1995.

Mesmo tendo passado por transformações, a prova de seleção para a carreira de diplomata é obrigatória desde 1945. Esse foi o ano de criação do Instituto Rio Branco, o órgão do Itamaraty responsável pela formação dos profissionais da diplomacia.

Instituto Rio Branco (foto: Daniella Duarte/Flickr)

A mudança mais recente da prova de ingresso aconteceu em 2019. A partir de então, o CACD passou a ser dividido em duas etapas que são aplicadas em dois meses diferentes. Funciona assim:

1.ª Etapa

A primeira etapa consiste em uma prova fechada com 73 questões. Cada uma das perguntas tem quatro afirmativas e os candidatos devem responder se cada uma delas está certa ou errada. Os temas da prova são bastante variados e incluem:

O sistema de pontuação da prova também é bastante diferente do que estamos acostumados. Um acerto vale 0,25 pontos, enquanto um erro faz você perder 0,125 pontos.  Caso o candidato não tenha marcado nada ou marcado as duas opções, a questão passa a valer zero pontos. Sendo assim, a prova vale 73 pontos ao todo.

A duração total da prova é de 6 horas. Esse tempo é dividido em duas metades, uma realizada pela manhã e outra pela tarde. Essa fase é apenas eliminatória, ou seja, a sua nota vale para passar para a próxima fase, mas não interfere na classificação final.

2.ª Etapa

A segunda etapa tem quase todas as disciplinas cobradas na primeira, com exceção da prova de História Mundial. Além disso, somam-se as provas de Francês e Espanhol. A diferença é que nesta fase as questões são dissertativas. Geralmente cada disciplina tem quatro questões abertas e as respostas variam entre 40 e 90 linhas.

Além disso, o resultado é eliminatório e classificatório. Ao todo, 200 candidatos participam da segunda etapa das provas do CACD. Esse número é bem menor do que o da primeira fase, que costuma ser feita por mais de 5 mil pessoas. Ainda assim, o número de aprovados é bastante reduzido, variando entre 20 e 30 pessoas.

3. Conclua o curso de formação de diplomatas

Todas as pessoas aprovadas dentro do número de vagas do CACD são nomeadas para trabalhar no Itamaraty. Porém, é preciso completar o Curso de Formação de Diplomatas do Instituto Rio Branco antes de poder exercer sua nova profissão.

O curso tem duração de 15 meses. Assim como a maioria dos cursos, a formação dos diplomatas é composta por aulas expositivas. Além disso, os alunos também têm conferências, seminários e viagens de estudos.

O objetivo dessa preparação no Instituto Rio Branco é introduzir os alunos à profissão de diplomata. Durante esse período, eles vão ser ensinados sobre a política externa brasileira. Eles também poderão conectar o que aprenderam durante a faculdade com o que é ensinado no curso.

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Durante a preparação, os alunos terão aulas de todas as disciplinas abordadas na prova de ingresso. Além delas, também são estudadas áreas como administração pública, técnicas de negociação e diplomacia.

Antes da conclusão do curso também é necessário fazer um estágio. Ele acontece no último período do curso na Secretaria de Estado das Relações Exteriores. No estágio, os alunos devem entrar em contato com várias áreas da carreira da diplomacia para ganhar domínio do serviço consular.

O que faz um diplomata?

Depois de ter passado pelo treinamento é hora de começar a carreira de diplomata. O seu primeiro cargo será de Terceiro-Secretário. Quem passa no concurso ganha automaticamente esse título, com salário inicial de R$ 19.199,00. Ao longo da carreira você pode ocupar outros cargos, com remuneração maior.

Quando se conclui o curso no Instituto Rio Branco, o diplomata é encarregado de alguma função no Itamaraty. A depender do seu desempenho, essa pessoa é promovida para o cargo de Segundo-Secretário. Geralmente essas pessoas trabalham com serviços mais técnicos.

O cargo de Primeiro-Secretário é o último grau antes de se tornar Conselheiro. Ao ocupar esse cargo, os diplomatas podem ser assessores do ministro das Relações Exteriores, ocupar cargos de chefia de seção, entre outros. Além disso, é função dos Primeiros-Secretários auxiliar os senadores no processo de autorização dos tratados.

Os Conselheiros são diplomatas com pelo menos 9 anos de experiência. Por isso, essas pessoas já podem ocupar cargos mais relevantes, como serem representantes do Brasil em postos de classe D, ou seja, países menos relevantes na nossa estratégia de relações exteriores, como a Etiópia.

O cargo de Ministro de Segunda Classe é dado para pessoas que vão ocupar cargos de chefia nas divisões do Itamaraty. Essas divisões tratam de assuntos relevantes para o país internacionalmente, como a questão ambiental.

Os embaixadores são os principais representantes do Brasil no exterior. Essa pessoa tem plenos poderes para agir em nome do nosso país lá fora e assinar tratados com outras nações. Os embaixadores são os líderes nas embaixadas, que ficam em países estratégicos. Clicando aqui você vê a classificação de cada um dos postos brasileiros no exterior.

Um diplomata deve passar ao menos três anos em cada um desses cargos. Isso não quer dizer que todas as pessoas serão promovidas automaticamente. A promoção depende da votação dos colegas e do ministro da pasta. Eles usam como critérios de escolha:

O tempo mínimo para chegar ao cargo de embaixador é de 20 anos de serviços prestados. Ao contrário do que se imagina, nem todos os diplomatas exercem suas funções fora do país. Porém, quem tem mais experiência internacional tem maiores chances de promoção.

Mas é importante dizer que independente de estar no exterior ou no Brasil, os diplomatas exercem funções relevantes para o nosso país. Eles são responsáveis por colher informações que vão ajudar nas decisões do governo, fazer acordos que podem incentivar as vendas dos produtos nacionais e protegem os brasileiros que vivem fora do Brasil.

Tem como ser diplomata de outro país?

Uma dúvida muito comum entre aqueles que querem se tornar diplomatas é se é possível atuar para outro país que não seja o Brasil. A resposta é que não tem como se tornar diplomata de outro país.

A nacionalidade é um dos pontos centrais para as vagas de diplomata. Isso acontece porque esses profissionais devem defender os interesses de suas nações. Se você é estrangeiro, pode ser que, mesmo inconscientemente, você tenda a favorecer o seu país de origem.

O mesmo vale no caso de oficiais de inteligência e mesmo cargos em agências governamentais relevantes. Não é possível para um brasileiro atuar diretamente para a CIA ou para a Nasa, por exemplo. Porém, ainda é possível atuar de forma indireta, com organizações parceiras.

Só é possível ser diplomata do seu próprio país. (Foto: Cancillería del Ecuador/Flickr)

No caso da Nasa, existem exceções que permitem funcionários de outra nacionalidade que não seja a estadunidense. Porém, elas são extremamente raras. O mais comum é que os brasileiros trabalhem com a Agência Espacial Brasileira (AEB), que é parceira da Nasa.

Já para quem tem o sonho de ser diplomata, mas não quer atuar no Instituto Rio Branco, ainda é possível buscar uma vaga na Organização das Nações Unidas (ONU). Por lá existem vários cargos disponíveis com funções próximas às dos diplomatas.

Como fazer estágio na ONU: conheça essa oportunidade

As pessoas que trabalham na ONU têm como objetivo cumprir as 17 metas para o Desenvolvimento Sustentável. Os funcionários da organização atuam em diversos países e são selecionados por vários setores, como “Proteção e Segurança Interna” ou “Trabalho político, de paz e humanitário”. 

Quantas línguas são necessárias para ser um diplomata?

Um diplomata deve saber ao menos quatro idiomas além do português. Apesar disso, é preciso saber apenas três línguas para fazer o Concurso de Admissão à Carreira de Diplomata: inglês, espanhol e francês. Mas também existe uma prova de conhecimentos da língua portuguesa.

As línguas mais importantes para a prova são o português e o inglês, que aparecem nas duas fases do exame. Francês e espanhol aparecem apenas na segunda etapa e o nível de conhecimento cobrado dessas línguas é menor. As provas são assim:

Português

Inglês

Francês e Espanhol

Além de serem cobrados na prova, esses idiomas continuam sendo estudados pelos novos diplomatas. Os Terceiros-Secretários têm cursos de inglês, francês e espanhol. Nessa fase, os estudantes do curso para diplomatas são subdivididos conforme seu nível nos idiomas para poderem ter um melhor aproveitamento.

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Embora não sejam cobrados na prova, os diplomatas precisam aprender um quarto idioma estrangeiro durante o Curso de Formação. Os alunos podem escolher entre três opções: árabe, russo e mandarim. Assim, são necessárias cinco línguas para ser um diplomata, contando o português.

Como se preparar para a carreira de diplomata?

O concurso de diplomatas é considerado um dos mais difíceis do Brasil. Alguns dos fatores que contribuem para isso são a concorrência acirrada (com mais de 200 candidatos por vaga) e a quantidade de conhecimentos cobrados.

Ao todo, são 10 disciplinas abordadas nas provas do CACD. Para dominar todos esses temas é preciso se dedicar. Em média, as pessoas se preparam entre 3 e 5 anos para conseguirem ser aprovadas na prova.

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Apesar de esse ser o tempo padrão, é preciso considerar qual é a sua base de conhecimentos prévios. Por exemplo, se a sua graduação foi em Direito, ainda terá que estudar outros 9 campos de conhecimento. O mesmo vale para cursos como História, Geografia e Economia.

Por outro lado, se você passou a sua vida estudando Medicina, Ciências Biológicas, Pedagogia ou outro campo não relacionado, você ainda não terá nenhum domínio das áreas abordadas na prova. Sendo assim, seu tempo de preparação poderá ser maior.

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Existem várias opções de preparação para o concurso de diplomatas. Muitas pessoas optam por se matricular em cursinhos especializados. O problema é que essas opções são muito mais caras, então, se você não tem dinheiro para investir, é possível estudar sozinho(a). Algumas dicas são:

1. Faça cursos online gratuitos

Você sabia que as melhores universidades do mundo oferecem vários cursos online e gratuitos? Eles são chamados MOOCS, ou Massive Online Open Courses, e ficam disponíveis em plataformas como a Coursera e a edX.

Nesse formato você tem aulas sobre os mais diversos temas, incluindo cursos de Relações Internacionais, totalmente online. Apesar de ter acesso a todo o conteúdo de forma gratuita, você vai precisar pagar se quiser um certificado.

No caso da preparação para o concurso de diplomatas, o que vai te interessar é o conhecimento. Então, busque os cursos mais bem avaliados das áreas cobradas no concurso e também uma bibliografia complementar confiável, de autores que são referência nesses campos.

Como a Coursera e a edX são plataformas internacionais, você pode ter dificuldade de encontrar cursos de História do Brasil. Porém, universidades brasileiras renomadas, como a USP, oferecem cursos online e gratuitos sobre o tema.

2. Afaste a preguiça

Uma das principais dificuldades de estudar por conta própria é a preguiça. Por tanto, se você pretende estudar para o concurso de diplomatas sozinho(a), lembre-se de organizar bastante a sua rotina de estudos, mantendo sempre um tempo para o descanso.

10 dicas de como acabar com a preguiça de estudar

3. Treine bastante

A repetição é um dos segredos do sucesso em qualquer exame. No site do Itamaraty é possível encontrar versões anteriores das provas do CACD. Faça cada uma dessas provas várias vezes. Por mais que o formato tenha mudado um pouco ao longo dos anos, você vai se acostumar com o conteúdo e com o estilo das questões.

Qual o melhor curso para se tornar um diplomata?

Quando o assunto é como se tornar um diplomata, é muito importante ter uma boa formação. É ela que vai te proporcionar uma base sólida de conhecimentos que vão te ajudar a passar no concurso mais rápido. Um dos cursos mais completos para fazer isso é o de Relações Internacionais. Venha conhecer quais são as melhores opções de faculdades de RI e suas possibilidades profissionais clicando aqui!